“Nossa luta hoje é contra o manicômio do preconceito”, essa fala do coordenador municipal de saúde mental de Parauapebas, Wagner Dias Caldeira, foi dita em praticamente todos os dias da programação que ocorreu ao longo dessa semana em alusão ao Dia Nacional do Movimento de Luta Antimanicomial, comemorado em 18 de Maio.
Iniciada na terça-feira (19), durante a sessão na câmara, a programação teve como objetivo disseminar informações relacionadas à reforma psiquiátrica que ocorre no Brasil desde a aprovação da Lei 10.216, de 2001, que dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas portadoras de transtornos mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental, assim como sensibilizar a sociedade sobre o assunto.
A partir dessa legislação foi implantada uma nova metodologia de trabalho voltada às pessoas com transtornos mentais, priorizando o tratamento e a reinserção delas na sociedade em detrimento à internação, isolamento e tratamento recebido nos hospitais psiquiátricos.
Esse é o melhor caminho, expôs a psicóloga Jureuda Guerra, presidente do Conselho Regional de Psicologia da 10ª Região, durante uma roda da conversa realizada nesta quinta-feira (21), com a participação de profissionais da área de psicologia, servidores públicos que atuam no Caps e respectivos usuários.
Jureuda Guerra também retratou durante o bate papo o desafio de vencer a mensagem, passada de geração a geração, há mais de 500 anos, de que é melhor a pessoa com transtorno mental ficar isolada em um hospital, sendo medicada, do que conviver em sociedade.
“Quando eu fui internado em um hospital psiquiátrico em São Luis, fui mal tratado. Eu não tinha contato nenhum com o psicólogo e nem com psiquiatra, o enfermeiro passava a dosagem dobrada do medicamento. Eu ficava preso em uma cela fria e escura, com grade”, relatou um dos usuários presentes na roda de conversa.
“São por experiências como essas relatadas hoje aqui que devemos continuar lutando para avançar nas políticas de saúde mental. O Caps foi implantado há 15 anos em todo o Brasil, ainda tem muita coisa para melhorar, porém, não podemos permitir retrocessos”, reforçou Jureuda Guerra.
Filme “Dá para fazer!”
Integrando a programação conduzida pela coordenação de saúde mental da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa), foi exibido o filme “Dá para fazer!”, na quarta-feira (19), na sala de videoconferência do Ceup. A trama conta a história de uma das cooperativas implantadas na Itália para envolver pessoas com transtornos mentais oriundas de hospitais psiquiátricos.
O protagonista principal do filme, Nello, um sindicalista de esquerda afastado por suas ideias nada convencionais, passa a coordenar uma cooperativa de doentes mentais, beneficiados pelo fechamento dos manicômios através da Lei Basaglia na Itália.
Acreditando no trabalho, ele convence os sócios (os pacientes mentais) a substituir as esmolas assistencialistas por um trabalho de verdade, direcionando cada um a atividades adaptadas às capacidades. Tratado com humor e delicadeza, é um filme divertido e comovente, baseado em fatos reais.
Texto: Karine Gomes
Foto: Comunicação da Câmara Municipal / Karine Gomes