O medo de assaltos tem prejudicado os serviços de entrega em Belém. Os carteiros pararam de entregar correspondências em áreas consideradas perigosas, principalmente nos bairros do Jurunas, Terra Firme, Guamá, Barreiro, Satélite e Benguí. Os moradores destas áreas precisam se deslocar a uma agência dos correios para buscar encomendas.
Em nota, a Polícia Militar informou que os bairros citados recebem rondas diárias e operações com barreiras e bloqueios nas avenidas principais e ruas de grande movimentação. Somente no bairro do Benguí, 597 pessoas foram presas de janeiro a maio de 2016, segundo a PM. A Secretaria de Segudança Pública (Segup) registrou 18.783 roubos nos dezesseis bairros de Belém entre janeiro e abril de 2016.
Melissa Souza conta que cancelou o contrato com uma operadora de telefonia por não receber a conta em casa. “Para eu pagar a conta, devia primeiro imprimir (a conta) para poder ir na lotérica. Aí fica difícil”, conta Melissa.
Para o presidente da Associação de Moradores do Benguí, Charles Aviz, a decisão é compreensível. “O próprio governo, que deveria dar segurança para a sociedade trabalhar, não dá. É complicado o trabalhador entrar em uma área dessas que é violenta, ele pode ser assaltado ou coia pior, por falta da presença do estado”, diz Charles.
“Como os assaltos estão sendo feitos de uma maneira muito mais brutal, o funcionário chega totalmente desequilibrado emocionalmente. Ele não apenas pede para mudar o distrito de distribuição, como muitas vezes é afastado pelo médico psiquiatra que não vê nele condições de voltar para a distribuição”, explica Israel Rodrigues, presidente do Sindicato dos Trabalhadores dos Correios.
Um carteiro que não quis se identificar conta que passou um ano e meio afastado do serviço devido a uma depressão e continua fazendo tratamento. “Hoje eu trabalho a efeito de remédio. Vida de carteiro é uma vida e herói, porque nós saímos para trabalhar e é uma incógnita nosso retorno, né?”, conta o carteiro.
Segundo o trabalhador, a situação é muito comum entre os colegas de profissão. “Tem casos de colegas que estão desistindo. Hoje tem amigo meus que desempenhavam a atividade junto comigo e estão entregando o lugar”, relata.
Entregadores que trabalham com comida também são muito visados por assaltantes. Em uma pizzaria de Belém, todos os treze entregadores têm histórias de violência para contar. A gerência decidiu deixar de atender pedidos em áreas de rico para evitar os assaltos.
“É um risco, né? Perder a moto, perder a renda, então preferimos não ir. A vida principalmente, a gente sabe que hoje em dia eles (assaltantes) não querem só a moto, não querem só o dinheiro, querem matar também”, afirma Ranieri Arruda, gerente da pizzaria.