Quais atos disciplinares tem praticado a escola? É claro que, para responder a esta questão, precisamos responder outra: Que conceito nós temos de disciplina? Em uma visão dialético-libertadora, podemos entender a disciplina consciente e interativa como processo de construção da autorregulação do sujeito ou grupo, em que se dá a interação social, e pela tensão dialética que consiste na transformação do sujeito para se atingir conscientemente um objetivo.
Observando o cotidiano escolar é quase impossível não se perceber o formalismo reinante seja na relação professor-aluno, nos famosos “encaminhamentos” para a diretoria escolar, orientadores educacionais e para a coordenação pedagógica, seja na relação com os pais. Por exemplo, o tempo precioso que o professor perde com cobranças estéticas em sala de aula é de assustar, tendo em vista as grandes necessidades pedagógicas existentes e a perspectiva de ver esse tempo melhor empregado. O comportamento dos alunos em sala de aula tem sido uma grande dor de cabeça para o professorado. Realmente, observamos que o comportamento dos alunos mudou em relação ao nosso tempo de estudante. Mas torna-se necessário também observar que a sociedade mudou e os valores e os padrões de comportamento também mudaram. Quase sempre nós professores não observamos essas transformações quando vamos falar sobre as regras disciplinares com os nossos alunos. É certo que também temos parado mais vezes para ler, discutir, analisar e buscar soluções para os nossos problemas. Lemos artigos que se fundamentam nos aspectos ético-filosóficos, outros nos aspectos sociológicos, outros nos psicopedagógicos e outros nas transformações históricas. Ótimos textos, diga-se de passagem.
Constatamos através deles, que vivemos uma realidade conflituosa, na qual experimentamos simultaneamente: o pré-moderno, moderno e o pós-moderno. Isto interfere sobremaneira no comportamento dos nossos alunos que, consequentemente, se mostram inseguros, individualistas, sem valores coletivos, vazios de ideias, sem objetivos de vida. O que estão querendo dizer nossos alunos com seu comportamento em sala de aula? Será que estamos no lugar deles? Será que gostaríamos de assistir a estas aulas que estamos ministrando, ou até mesmo frequentá-las? Estas perguntas são preliminares, certamente temos muitas outras.
Faz-se necessário assumirmos a nossa alienação, ou seja, que deixemos de ser professores e nos tornemos escravos dos livros didáticos; dos diários escolares e notas ou conceitos. Não produzimos nada, não criamos, não inventamos, apenas reproduzimos e reclamamos. Como consequência de professor alienado, temos o aluno alienado, aquele que perdeu a sua essência, que não deseja o conhecimento para a sua liberdade, mas simplesmente para vendê-lo ao sistema e escravizar-se a ele. Podemos afirmar com tranquilidade que somos fruto de uma educação que não se interessava em ver pessoas autônomas. Percebemos isso claramente quando questionamos os professores sobre os problemas da escola e ouvimos sempre que a responsabilidade é do governo. É certo que todos temos uma grande dose de responsabilidade. Cabe a nós, professores, sabermos qual é a nossa. Isso não é difícil, pois nosso espaço de atuação é a sala de aula e, é com o aluno que trabalhamos diretamente, mais do que qualquer outra pessoa. É hora de construirmos junto com os nossos alunos e comunidade escolar: a escola, a aula e a sociedade que eles e nós, mesmo que inconscientemente desejamos. Percebemos que o mundo mudou que não é mais o mesmo dos nossos pais. Quem está na escola hoje, é outro ser humano, com exigências e necessidades diferentes. Se queremos formar cidadãos conscientes com personalidades bem desenvolvidas, pessoas íntegras temos que repensar toda a estrutura escolar, com a preocupação de dar significado à vivência dos alunos nos seus afazeres curriculares e extracurriculares, temos que rever nosso currículo, quanto à propriedade dos conteúdos e da metodologia utilizada, visando possibilitar a formação de conceitos e atitudes pelos alunos; temos que propiciar a auto-avaliação e a avaliação em grupo para permitir a conscientização e o compromisso pessoal.
Portanto, negociar regras e limites de comportamento, estabelecendo em grupo sanções a que estão sujeitos os infratores e que devem ser vinculadas à conduta inadequada. A cobrança deve ser responsabilidade de todos, e a rediscussão das regras deverá ocorrer sempre que as transformações fizerem com que alguma regra perca o sentido (e, quase todas elas já as perderam) passando a entravar o crescimento do grupo e o andamento dos trabalhos escolares.
Especialista em educação*