O relatório da organização não governamental Oxfam, divulgado esta semana, aponta um cenário dramático de concentração de renda no mundo, que fez com que, em 2018, as 26 pessoas mais ricas do globo detivessem a mesma riqueza dos 3,8 bilhões mais pobres, que correspondem a 50% da humanidade.
Não por acaso lançado às vésperas do Fórum Econômico Mundial, realizado em Davos, na Suíça, que reúne todos os anos os anos os nomes mais importantes da economia e da política no mundo, o documento mostra que a riqueza dos bilionários aumentou 12% no ano passado, o equivalente a US$ 900 bilhões, ou US$ 2,5 bilhões por dia, enquanto a outra metade ficou 11% mais pobre no mesmo período, pagando o preço da crise econômica global que começou em 2007.
Essa mesma crise econômica não afetou os bilionários, cujo número dobrou de 1.125 em 2008, para 2.208 em 2018. Além disso, o relatório indica ainda que os homens detêm 50% a mais do total de riqueza do mundo do que as mulheres.
O documento é preciso ao apontar a necessidade de maiores investimentos em serviços públicos, especialmente em educação e saúde, como forma de reduzir a desigualdade econômica no mundo. Metade da população mundial não tem dinheiro para pagar despesas médicas, por exemplo.
Este é um cenário que diz muito sobre o Brasil, que continua a ser um dos países mais desiguais do mundo, com a contradição de ter a oitava economia global, com terras para produzir, biodiversidade nas nossas florestas para o desenvolvimento de tecnologias, uma indústria pujante em diversas áreas, mas que ainda convive com situações de trabalho análogo à escravidão, violência urbana desenfreada, sangrentos conflitos de terras e vulnerabilidade de crianças e adolescentes.
Para superar esse cenário, precisamos fundamentalmente de crescimento econômico para enfrentar o conflito distributivo e as consequentes desigualdades, investindo com centralidade na educação e na geração de emprego e renda, que merecem maior importância na agenda governamental.
A retomada do crescimento econômico não tem favorecido os elos mais fracos da corrente, em especial, segundo o relatório, por causa do sistema tributário, que pesa mais sobre quem tem menos, um fenômeno que ocorre em todo o mundo. Quem já é muito rico é favorecido pelos lucros do mercado de capitais, aumentando ainda mais suas posses, enquanto o desemprego aumenta e as relações de trabalho se tornam mais precárias.
A elite econômica global sabe disse e se reúne em Davos, todos os anos, para debater, entre outros temas, meios para aliviar a pressão que a imensa maioria da população mais pobre exerce para também ter acesso a bens e serviços que são usufruídos pela classe média, em todo o mundo e evitar conflagrações sociais como as que vemos hoje na América Latina, com venezuelanos abandonando seu país e multidões de migrantes tentando entrar nos Estados Unidos.
Por esse motivo, o mundo sempre volta os olhos para o Brasil quando surge uma vitrine como a de Davos, nesta semana, em busca de informações da direção a ser tomada pelo maior país da América do Sul. Nesse ponto, o presidente Bolsonaro conseguiu transmitir a mensagem que pretendia levar ao fórum na Suíça, que é a da abertura da economia, em um ambiente favorável aos negócios, com mais segurança para a população e sem a sangria da corrupção, porém, sem o brilho que seria esperado em quem está disposto a assumir um papel de liderança continental e muito menos de selar a paz em um país dividido entre correntes políticas antagônicas e que deseja superar esse impasse para voltar a crescer.
(Por Arnaldo Jordy-. Fonte: O Liberal)