Se você é um dos fãs que ajudaram Vingadores: Ultimato a se tornar um dos filmes mais vistos da história do cinema, é provável que, vidrado em saber como a saga da Marvel iria terminar, não tenha percebido que a história girava em torno de um antigo dilema dos economistas.
Thanos achava que existia gente demais no universo. A solução em Vingadores: Guerra Infinita (2018) foi matar metade da população, o ponto de partida de Vingadores: Ultimato. É uma medida drástica, mas que remete a Thomas Malthus e uma preocupação clássica da economia: a gestão de recursos escassos.
Ele foi um dos primeiro pensadores a se debruçar sobre o assunto. Em um ensaio de 1798, imaginou um colapso do fornecimento de alimentos, prevendo que o futuro seria de fome, pobreza e doença com o crescimento populacional descontrolado.
Malthus acreditava que, com as condições de vida melhores, as pessoas teriam cada vez mais bebês, logo chegando o momento em que faltaria comida para todos. É uma ideia que se provou errada com tecnologias como novas sementes, tratores e fertilizantes aumentando a produção de alimentos.
Mas nosso supervilão pensa de um jeito um pouco diferente. Thanos diz que a pobreza e o sofrimento já existem, o universo não tem mais capacidade de prover recursos para todo mundo. Mas se metade da população desaparecer, a outra metade viverá com mais conforto.
Na visão do economista Tim Harford, a lógica de Thanos até faz sentido. Vivemos sob a ameaça de uma catástrofe no clima e, além disso, extraindo mais água e outros recursos do que devíamos. Com 7,56 bilhões de pessoas na população mundial, também estamos perto de atingir o ponto no qual os danos se tornam irreversíveis.
Se metade da humanidade deixasse de existir, no longo prazo, é possível que o padrão de vida da metade restante se elevasse mesmo. Com menos pessoas para desfrutar os mesmos recursos, aumentaria a riqueza individual dos sobreviventes.
O exemplo mais próximo é o da peste negra, a epidemia que dizimou um terço da Europa no século XIV. Entre os sobreviventes, por falta de mão de obra, os salários subiram e a expectativa de vida aumentou. A prosperidade de todo mundo se elevou nem que fosse um pouco.
Thanos, o economista, está certo então?
Não.
Como Harford apontou sem seu podcast The Indicator from Planet Money, cortar pela metade a população apenas adiaria o problema. Se as pessoas se reproduzem sem controle, logo haverá mais e mais delas e estaríamos no mesmo ponto, com a necessidade de eliminar de novo metade dos humanos.
Thanos, condenado pela eternidade a essa operação, talvez se arrependesse amargamente e acabasse procurando outra solução. Mas qual?
Ao possuir todas as Joias do Infinito, pedras cósmicas que, no universo do filme, concedem a seu possuidor um tremendo poder, ele pode criar tecnologias contraceptivas mais eficientes, que ajudariam a estabilizar a população sem dizimá-la. Ou seja, faria mais ou menos como é hoje no mundo real.
Muitas pessoas veem a economia confinada a gabinetes e à divulgação de estatísticas. Essa discussão demonstra que muitas outras ideias podem ser assunto para economistas. Até um apocalipse no mundo dos heróis.
Fonte: G1