“Homem Aranha: Longe de casa” estreia nesta quinta-feira (4) no Brasil como uma grande mistureba – repleta de truques e de reviravoltas – de road movie adolescente com super-heróis e romance que resulta, de alguma forma, em um dos melhores filmes do herói.
Há alguns anos, alguém poderia ser considerado louco por dizer que combinar pitadas de “Homem de Ferro” (2008) e de “Doutor Estranho”(2016) com “EuroTrip – Passaporte para a Confusão” (2004) daria tão certo, mas aqui estamos.
O segundo filme solo estrelado por Tom Holland apresenta a versão do herói mais distante daquela clássica dos quadrinhos, mas se salva com aquela que talvez seja a melhor e mais empolgante demonstração dos poderes do cabeça de teia nos cinemas. É um equilíbrio complicado, mas eles conseguem.
Azar-aranha
As coisas começam lentas em “Longe de casa”, praticamente do ponto no qual “Vingadores: Ultimato” terminou. Os acontecimentos são resumidos de forma criativa e bem humorada pelo diretor Jon Watts, que retorna à franquia depois de “De volta ao lar” (2017), mas é uma boa ideia assistir à história da super equipe antes.
Quase toda a turma de colégio de Peter Parker, identidade civil do protagonista, retorna à rotina escolar após ter a existência apagada pelo vilão Thanos e decide fazer uma viagem “científica” pela Europa. O jovem é o mais ansioso pelas férias da vida de heroísmos, uma boa oportunidade de se declarar à colega MJ (Zendaya).
Infelizmente para ele, o azar característico do Homem-Aranha nos quadrinhos o segue para os cinemas e o passeio é interrompido pelo ataque de monstros gigantescos baseados nos quatro elementos que destroem cidades como Veneza, na Itália, e Praga, na República Tcheca.
Força, ícone
O Peter Parker de “Longe de casa” começa a história exausto após ajudar a salvar o mundo de sua maior ameaça e ainda mais inseguro. A ideia de ter de substituir os ícones que se foram não é fácil para um garoto de 16 anos.
Essa primeira versão é uma das menos parecidas com a dos quadrinhos, que escondia suas incertezas atrás do humor e de tiradas espertinhas contra os oponentes.
O cansaço e a insegurança são as maiores responsáveis pela lentidão do início, que funcionaria muito bem se este fosse apenas mais um filme adolescente, no qual o protagonista quer conquistar a mocinha e passa por muitas trapalhadas ao lado de seus melhores amigos. Já para o gênero de super-heróis a coisa demora a engrenar.
Quando tudo parece perdido, a narrativa se transforma completamente e os maiores fãs das HQs em pouco tempo se sentem no meio de uma história típica do amigão da vizinhança – para ser justo, “Aranhaverso”(2018) conseguiu o mesmo há pouco tempo, mas versões com atores estavam devendo esse sentimento desde “Homem-Aranha 2” (2004).
É difícil analisar demais sem estragar algumas das surpresas, mesmo que elas sejam um tanto previsíveis para quem conhece os personagens. Basta dizer que o sentido aranha, espécie de premonição que avisa o herói do perigo, nunca foi tão bem utilizado nos cinemas. E a batalha final, apesar de 110% computação gráfica, é a que melhor representa seus poderes aracnídeos. Dá gosto de ver.
Que Mystério é esse?
Ao lado do Aranha contra as criaturas elementais está o novato Mystério, um homem de capa e capacete parecido a um aquário que diz ter saído de uma dimensão paralela.
Interpretado por Jake Gyllenhaal (“Animais noturnos”), que parece se divertir muito no papel, ele aos poucos assume a vaga de figura paterna/mentor deixada por Tony Stark.
A origem ajuda a explicar a aparente mudança de natureza do personagem, que nos quadrinhos é um dos vilões mais canastrões do herói, um dublê fracassado que utiliza truques do cinema para criar ilusões.
Sua presença é a maior fonte de inspiração para Peter, que supera seus medos para finalmente se tornar o herói que sempre quis ser. O Homem-Aranha hesitante do começo do filme, termina como aquele que deve ser um dos grandes protagonistas da Marvel nos cinemas.
Este talvez não seja aquele cabeça de teia ao qual os leitores das HQs estão acostumados, e provavelmente não é tão complexo quanto o interpretado por Tobey Maguire nos anos 2000, com problemas reais de gente real. Mas certamente é a melhor versão possível para o universo integrado da editora, no qual deuses nórdicos existem e playboys milionários atravessam a galáxia.
Fonte: G1