É verdade mesmo que tomar água com chia emagrece? A resposta é sim e não. Sim porque a chia pode ser uma aliada no processo da perda de peso, e ao mesmo tempo não porque ela não trabalha sozinha e precisa ser parte de um plano que inclua atividade física e alimentação balanceada para ter o efeito desejado. Composta por diversos nutrientes e capaz de trazer uma série de benefícios para a saúde, a chia (salvia hispanica) se popularizou nos últimos anos como “queridinha” das dietas de emagrecimento. Produzida no Cerrado e no Sul, ela passou também a ser importada do México, sua região originária, para suprir a alta na demanda. Suas sementes ganharam os holofotes e, mais recentemente, se espalhou a informação de que tomar um copo d’água com uma colher de sopa de sementes de chia antes de cada refeição emagrece. O EU Atleta conversou com o endocrinologista e médico ortomolecular Henrique Passos e a nutricionista Regina Sarmento para entender os benefícios e mitos que cercam a chia.
– A chia é um alimento espetacular e que, neste momento, se tornou o grande queridinho que resolve todos os problemas: reduz colesterol, diminui a glicose, emagrece, regula o intestino… Isso é verdade, mas não existe mágica. Tomar uma colher de sopa de chia no copo d’água antes de cada refeição não vai emagrecer ninguém se esse alguém não fizer atividade física, beber bastante água, dormir bem e tiver uma alimentação adequada e equilibrada. A chia colabora nesse processo, mas não é ela por si só que faz você emagrecer – explica Regina.
Como deve ser tomada a água com chia?
- Para alcançar benefícios para saúde ao consumir a semente, o recomendado é que se misture uma ou duas colheres de sopa de chia para um copo d’água (250 mL) em temperatura ambiente.
- A ingestão deve ser feita enquanto a pessoa estiver em jejum ou com cerca de 30 minutos de antecedência para a próxima refeição, como o almoço.
- Para tornar seu sabor mais agradável, é possível aromatizar a água com chia com algumas opções, como limão, rodelas de laranja com um pedaço de canela em pau, tiras finas de gengibre com hortelã ou pepino cortado em palitos.
O principal motivo pelo qual a chia se popularizou como solução para o emagrecimento é a redução do apetite que o consumo da semente proporciona, já que ela promove saciedade.
– Suas fibras possuem a capacidade de absorver muita água, transformando-a em um gel no organismo. Quanto a beber antes do almoço e do jantar para emagrecer, é fato. Quando consumida com água, ela promove sensação de saciedade, fazendo com que se coma menos e, consequentemente, se emagreça – explica Henrique, que recomenda o consumo em água em temperatura ambiente 30 minutos antes do almoço, mas sugere deixá-lo facultativo para o jantar por conta do alto teor calórico da semente.
Por outro lado, Regina ressalta os benefícios do consumo da chia antes da refeição, mas aponta outras alternativas que podem ser adotadas com as sementes. Segundo a nutricionista, o consumo da chia pode ser feito junto a um prato de salada, tanto na forma de molho como na forma de grão, ou ainda utilizada no preparo de arroz e sopas. No caso do grão, é preciso também estar atento à hidratação, pois as qualidades deste alimento são mais bem aproveitadas quando os grãos são germinados.
– Eu posso destacar duas vantagens de se consumir a chia imediatamente antes de uma refeição. Ela é uma boa opção para reduzir a fome e o índice glicêmico da refeição que vem logo a seguir, mas você consegue este mesmo efeito com outras coisas. Como nutricionista, eu recomendo sempre o consumo de uma salada antes da refeição principal. A chia pode ser parte disso. É muito mais prazeroso comer um prato de salada do que tomar uma água com chia sem gosto de nada – conta Regina, que ainda aponta a laranja como substituto para atingir os mesmos objetivos desejados ao consumir a chia – Outra opção é comer uma laranja que, além de rica em fibras, água e vitaminas, contém ansiolíticos naturais que ajudarão a reduzir a vontade de comer na refeição que vem a seguir.
Benefícios
- Aliada no emagrecimento por promover saciedade;
- Fonte de minerais como cálcio, magnésio, fósforo, ferro, zinco e potássio, que ajuda a evitar cãibras;
- Rica em vitaminas A e nas vitaminas do complexo B;
- Fonte vegana de ômega-3, comumente encontrado no óleo de peixe, o que contribui com:
- Processos anti-inflamatórios;
- Redução do nível de colesterol no sangue;
- Prevenção da hipertensão e de doenças cardiovasculares.
- Ajuda a reduzir o índice glicêmico, que é a quantidade de açúcar que fica no sangue após a ingestão de carboidratos;
- Contribui para o bom funcionamento do intestino, servindo também como uma alternativa para pessoas com prisão de ventre.
- Ótimo emulsificante, capaz de dar consistência cremosa aos alimentos e servir como ingrediente para pudins, mingaus e geleia.
Mas é sempre bom lembrar: por mais que ajude no processo, a semente não fará com que a pessoa emagreça muito e seus resultados estão condicionados a todos os hábitos do dia-a-dia. Desta forma, além da prática da exercício físico e dos cuidados com sono e hidratação, é importante evitar alimentos como frituras, farinhas (sobretudo brancas) e refrigerantes.
Riscos do consumo excessivo e contra-indicações
Mesmo com todos os seus benefícios, o consumo da chia deve ser feito com parcimônia. Quando ingerido em excesso e sem a hidratação adequada, é um alimento que pode provocar prisão de ventre. As altas quantidades também podem reduzir o apetite além do recomendado, fazendo a pessoa comer ainda menos e atrapalhando a absorção dos nutrientes. Seu alto teor calórico também é um ponto que deve ser cuidado.
– As sementes de chia possuem uma grande quantidade de calorias. Uma colher de sopa tem cerca de 65 kcal e não é raro deixar cair mais do que o necessário dentro do prato. Por isso, seu consumo deve ser moderado. A indicação para cada pessoa é diferente, cabendo ao nutricionista adequar o consumo da chia com a sua alimentação diária – alerta Henrique.
O médico também aponta para o risco de dores intestinais em pacientes cuja alimentação é rica em proteínas animais, devido à grande quantidade de fibras presente nas sementes. Um porção de 30 g, por exemplo, contém 11 g de fibras (42% do valor diário recomendado). Neste caso, é importante ter uma atenção especial com as quantidades e suas reações.
Seu consumo também é desaconselhado a alguns pacientes crônicos que tomam medicações constantes para problemas cardíacos ou anticoagulantes, para evitar efeitos aditivos. E para pessoas que tomam medicamentos para manter os níveis de açúcar no sangue mais baixo, como diabéticos e hipoglicêmicos.
– As fibras solúveis agregadas aos alimentos promovem um retardo do esvaziamento gástrico e, com isso, lentidão da absorção da glicose pela circulação sanguínea, o que termina por contribuir para um queda da glicemia – considera o médico.
Fonte: Por Matheus Wenna, para o EU Atleta — Rio de Janeiro