Como analisar um time que vai a campo com 11 desfalques – sete deles contaminados por uma doença pandêmica – em meio a uma situação caótica que, horas antes do jogo, não tinha claro se haveria ou não partida?
O Flamengo fez o que tinha que fazer: ganhou do lanterna do grupo, se recuperou na Libertadores e volta para casa com danos minimizados após sofrer uma goleada dolorosa do Independiente del Valle.
No fim das contas, o jogo contra o Barcelona era para isso mesmo. Seria difícil cobrar um desempenho encantador em condições atípicas. Mas a partida também serviu para ilustrar algumas questões que se repetem com a equipe rubro-negra.
Início animador
Muito criticado pela estratégia contra o Del Valle, Domènec Torrent voltou ao 4-2-3-1, até agora o esquema em que o Flamengo mais rendeu sob seu comando. Gerson, sempre coringa, virou ponta-esquerda, com Arrascaeta centralizado e Everton Ribeiro na direita.
A rearrumação foi suficiente para o time ter ótimo início de jogo. A saída de bola com Arão foi sempre limpa, Pedro se movimentava e dava opções, e Gerson fazia uma de suas melhores partidas recentes. Foi do Vapo a jogada e o passe para o gol de Pedro, partindo da esquerda e achando o centroavante livre na área.
O segundo gol veio em nova jogada rápida de ataque. Em poucos toques, Pedro fez o pivô, acionou Everton Ribeiro, e o camisa 7 achou Arrascaeta livre na área. Em que pese o bom futebol do Flamengo, também é preciso ressaltar a extrema fragilidade defensiva do Barcelona.
E, então, os problemas voltaram a acontecer. Já no fim do primeiro tempo, o Barcelona equilibrou o jogo e passou a ameaçar mais a área do Flamengo. A segunda etapa começou da mesma maneira, com um gol de Martínez numa falha até difícil de explicar da zaga, que se partiu ao meio num lançamento longo.
O segundo tempo foi um roteiro que se resume em uma defesa rubro-negra extremamente exposta e um ataque que, apesar dos generosos espaços pelo Barcelona, parecia não saber o que fazer. O time caiu muito de nível fisicamente, e isso ficou perceptível.
Problemas recorrentes
Os problemas apresentados foram os mesmos dos últimos jogos. Dois deles se destacam:
O primeiro problema foi abordado por Dome em entrevista coletiva. Ele voltou a pedir tempo para desenvolver seu estilo e afirmou que treinou com o elenco completo por apenas 10 dias. Por outro lado, concordou que o time precisa manter seu ritmo de performance, mas ressaltou que isso acontecerá conforme o trabalho avançar.
A grande questão é que é muito improvável que o técnico encontre mais tempo para treinar do que o que dispõe no momento, em meio a uma maratona de partidas. A rotina de viagens e trabalhos de regeneração será uma constante. Ele precisará encontrar uma maneira se adaptar a isso, por mais que seja compreensível sua frustração pelo pequeno número de treinos.
A transição defensiva é algo pontual, mas talvez até mais urgente para ser consertado. Se a linha de quatro defensores, em si, não está totalmente encaixada, isso se potencializa quando ela não recebe ajuda.
Por muitas vezes contra o Barcelona, os jogadores de ataque demoravam para recompor, e isso deixava a defesa completamente exposta. No futebol atual, a proteção começa na frente: se a pressão não é bem feita ou se não há auxílio na marcação, tudo estoura atrás.
Este é um problema que aconteceu também contra o Independiente del Valle, com efeitos mais devastadores, e em outros duelos, até mesmo em vitórias do Flamengo, e tem raízes que ultrapassam a parte tática. É o principal ponto fraco do time no momento.
O Flamengo volta ao Rio de Janeiro nesta quarta-feira e terá apenas alguns dias para trabalhar até voltar a campo contra o Palmeiras, no domingo – isso se o jogo não for adiado.
Esta falta de tempo será cada vez mais comum, e caberá a Dome lidar com ela e encontrar maneiras de driblá-la. E também caberá à diretoria e à torcida terem paciência para uma construção de equipe mais lenta do que talvez se imaginasse no início.
Fonte: Por Felipe Schmidt — Rio de Janeiro