O comandante do Exército, general Edson Leal Pujol, afirmou nesta quinta-feira (12), durante uma transmissão ao vivo por rede social, que os militares não querem “fazer parte” da política nem querem que a política “entre” nos quartéis.
Pujol fez a afirmação dois dias depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) dizer que “quando acaba a saliva, tem que ter pólvora” ao se referir à possibilidade de o país ser alvo de sanções por conta do desmatamento na Amazônia. Em setembro, o presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, cogitou a imposição de barreiras comerciais ao Brasil por esse motivo.
A declaração de Bolsonaro gerou críticas de parlamentares e uma onda de piadas nas redes sociais, muitas com referências ao Exército Brasileiro.
Na noite de quinta-feira (12), o comandante do Exército participou de um evento virtual promovido pelo Instituto para Reforma das Relações Estado e Empresa, do qual também participaram o ex-ministro da Defesa, Raul Jungmann, e o ex-ministro e general da reserva Sérgio Etchegoyen (Gabinete de Segurança Institucional).
Em uma das questões formuladas ao general, Jungmann afirmou: “Até bem recentemente, havia quem dissesse que as Forças Armadas estão se envolvendo com a política. E eu disse que isto não era fato. As Forças Armadas, como instituições permanentes de Estado, permaneciam totalmente voltadas para as suas missões profissionais e inteiramente dentro daquilo que determina a nossa Constituição. Gostaria de ouvi-lo a esse respeito.”
Em resposta, Pujol disse que os militares não querem ter ação política e que o eventual chamado para ocupação de cargos no governo é opção do Executivo.
“Não queremos fazer parte da política governamental ou política do Congresso Nacional e muito menos queremos que a política entre no nosso quartel, dentro dos nossos quartéis. O fato de, eventualmente, militares serem chamados a assumir cargos no governo, é decisão exclusiva da administração do Executivo.”
Segundo o comandante, nos dois anos em que ele esteve à frente do Exército, o Ministério da Defesa e as Forças Armadas se preocuparam “exclusivamente e exaustivamente” com “assuntos militares”.
“A respeito da política e dos militares, o que eu tenho a dizer é que nesses dois anos, o Ministério da Defesa e as três forças se preocuparam exclusivamente e exaustivamente com assuntos militares. O nosso diagnóstico é o de que precisamos aumentar, e muito, a nossa capacidade operacional.”
Pujol disse ainda que, “eventualmente”, o ministro da Defesa é chamado a participar de decisões do governo, mas acrescentou: “Não nos metemos em áreas que não nos dizem respeito”.
Ao assumir o governo, o presidente Jair Bolsonaro, capitão reformado do Exército, convidou diversos militares da ativa e da reserva ou pessoas com formação militar para cargos no governo.
Entre esses, estão os ministros Walter Souza Braga Netto (Casa Civil); Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo); Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional); Fernando Azevedo e Silva (Defesa); Eduardo Pazuello (Saúde); Bento Albuquerque (Minas e Energia); Jorge Oliveira (Secretaria-Geral); e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura).
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão, também é militar — ele é general reformado do Exército.
Em junho, durante entrevista ao programa “Roda Viva”, da TV Cultura, o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, foi indagado sobre a presença de militares no governo.