Que o Fluminense era “azarão” contra o Flamengo na disputa pelo título Carioca, todos sabiam. Mas as boas atuações na final da Taça Rio e, principalmente, no jogo de ida da decisão encheram a torcida de orgulho e deram esperança de que uma até então improvável conquista podia ser alcançada. Expectativa quebrada na noite desta quarta-feira, no Maracanã, com uma exibição abaixo das anteriores, na derrota por 1 a 0 que resultou no vice estadual.
Ao analisar o desempenho da equipe comandada por Odair Hellmann neste último jogo, é preciso ressaltar também que o Flamengo apresentou mais do que vinha apresentando. Se nos dois primeiros jogos, o time de Jorge Jesus nem de longe lembrava a equipe de 2019, neste terceiro jogo, o Rubro-Negro conseguiu controlar a posse (teve quase o dobro – 65% a 35%) e, com marcação alta e intensidade, dificultou a construção ofensiva tricolor.
Mesmo diante de maior dificuldade, o Fluminense ainda teve lampejos no 1º tempo. Se o Rubro-Negro teve mais volume na criação, o Tricolor teve oportunidades mais claras nas raras vezes que subiu ao ataque: duas, ambas desperdiçadas em chutes ruins de esquerda de Marcos Paulo, em boas jogadas de Nenê e Evanilson. Lances, porém, isolados.
Em nada o time lembrava aquele que neutralizou o Flamengo no primeiro jogo com uma marcação compactada e linhas baixas ou o que encurralou o rival em boa parte segunda etapa da partida do domingo passado, com intensidade no meio de campo e marcação sob pressão.
Ao fim do 1º tempo, a impressão que passava é que o Flu, ciente do desgaste físico da sequência de jogos após o pouco período de treinamentos (voltou aos treinos um mês após o Fla), evitou “correr demais” nos primeiros 45 minutos para não “faltar perna” após o intervalo. Se a estratégia foi essa, também não adiantou.
Na 2ª etapa, como o próprio Odair admitiu, a “perna pesou”, o time caiu de rendimento e o Fluminense sequer levou perigo a um Flamengo que, mais inteiro, cozinhava o jogo à espera do apito final.
Para complicar, nenhuma das alterações do técnico tricolor surtiu efeito. Aos 16 minutos, Odair colocou Michel Araújo no lugar de Gilberto, que sentiu, deslocando Hudson para a direita, e Fernando Pacheco na vaga de Marcos Paulo. Os estrangeiros eram opções pertinentes, apesar de não terem conseguido corresponder.
As três mexidas seguintes é que chamaram a atenção e provocaram críticas dos torcedores. Aos 27, o treinador lançou Ganso e Caio Paulista nos lugares de Yago e Evanilson. O momento da partida não sugeria pedir a entrada do camisa 10, cujo estilo cadenciado e experiência seriam mais úteis para segurar um resultado, enquanto o setor ofensivo perdeu qualidade com a saída do camisa 99.
E aos 39, a última cartada de Odair foi colocar Felippe Cardoso, que, além de ainda não ter ido bem quando foi acionado na temporada, sequer havia sido relacionado desde a volta do Carioca, no lugar de Dodi, um dos destaques do time no jogo. Não que o treinador tivesse fartura de opções no banco, – ainda mais diante de um rival cujo elenco é bem mais recheado -, mas com cinco substituições possíveis, poderia ter utilizado Miguel que, apesar de muito jovem, tem personalidade esse tipo de jogo.
Apesar do gostinho ruim no torcedor com a última exibição e o vice-campeonato, o Fluminense sai maior do que entrou nesta sequência de Fla-Flus, mesmo que ainda não tenha vencido desde o retorno do futebol. Fazer três jogos equilibrados contra uma equipe com estilo de jogo consolidado desde 2019 e com um mês de treinos a mais mostra que o time tricolor pode conseguir ser mais competitivo que muitos imaginavam no Brasileirão. O desafio é transformar esta competitividade em resultado, o que acabou não acontecendo na trinca de clássicos.
Fonte: Por Felipe Siqueira — Rio de Janeiro