Pandemia do novo coronavírus, menos investimento do governo federal e número inferior de atletas na delegação. Nada disso foi capaz de parar os 303 competidores brasileiros nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 de superarem o recorde de medalhas em Rio 2016 e terem o melhor desempenho da história do país em uma Olimpíada.
O recorde foi batido no último sábado (7) com o ouro do Brasil na final do futebol masculino, o sétimo em Tóquio. Igualado em ouros e pratas com Rio 2016, o paíss teve dois bronzes a mais (oito no total) e conseguiu superar o desempenho anterior mesmo com delegação consideravelmente menor (de 465 atletas em Rio 2016 para 303 agora).
O feito é ainda mais histórico considerando o contexto da disputa dos Jogos de 2020. A pandemia do novo coronavírus interrompeu treinos, adiou competições, diminuiu patrocínios e infectou atletas e treinadores do Time Brasil.
A crise sanitária impactou também o investimento federal nas modalidades por meio do Bolsa Atleta, que não teve novo edital em 2020. Só os atletas contemplados em 2019 continuaram a receber, enquanto os que estavam tentando aderir ao programa no ano passado foram obrigados a esperar até 2021 pela sua chance.
A interrupção no fornecimento de bolsas se refletiu no investimento total no programa. Mesmo em um ciclo olímpico mais longo (2017 a 2021), foram R$ 464 milhões executados (pagos) desde 2017, contra R$ 470,9 milhões no ciclo de Rio 2016.
O valor orçado para programa foi outro indicador que teve queda entre os ciclos, segundo dados divulgados pela Fiquem Sabendo, agência de dados especializada no acesso a informações públicas, compilados pelo IPIE (Instituto de Pesquisa Inteligência Esportiva) da UFPR (Universidade Federal do Paraná).
A diminuição, inédita desde o lançamento do programa em 2004, foi de R$ 111 milhões: R$ 641 milhões em 2013-2016 para R$ 530 milhões em 2017-2021.
O número de bolsas concedidas, no entanto, começou a ser recuperado em 2021, quando o novo edital do programa selecionou o maior número de atletas da história do programa: 7.529. Por isso, a quantidade de bolsas para esportes do programa olímpico entre os anos cresceu e passou de 25.405 entre 2013 e 2016 para 26.835 entre 2017 e 2021
Considerando todas as bolsas (incluindo de esportes que não estão no programa olímpico), porém, houve outra queda: 29.109 atletas até 2016 e 26.836 até este ano.
As bolsas são separadas em seis categorias, que preveem pagamentos mensais diferentes de acordo com a idade e o nível técnico do competidor: Atleta de base (R$ 370), Estudantil (R$ 370), Nacional (R$ 925), Internacional (R$ 1.850), Olímpico/Paralímpico (R$ 3.100) e Pódio (R$ 5 mil a R$ 15 mil).
Em Tóquio 2020, 80% dos competidores (242) estão contemplados com alguma destas modalidades do Bolsa Atleta, principalmente as quatro que melhor pagam. Outros 61 não possuem qualquer auxílio do governo federal.
Em resposta a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania afirmou que “tem adotado as medidas necessárias para fortalecer e aprimorar o Bolsa Atleta”. O governo argumentou que em 2021 assegurou R$ 145,2 milhões ao programa, maior orçamento desde 2014, superando inclusive o de 2016.
Além de citar a cobertura do Bolsa Atleta entre os medalhistas de Tóquio 2020, a pasta também afirmou que melhorou o programa deixado pelo governo Temer. “Ainda nos primeiros 100 dias de governo, o Ministério da Cidadania recompôs o orçamento do programa, que havia sido cortado pela gestão anterior, e dobrou o número de atletas contemplados, passando de 3.058 para 6.200.”
“Além disso, a pasta manteve, em 2020, os pagamentos para os 6.357 atletas das categorias Estudantil, Atleta de Base, Nacional, Internacional e Olímpica/Paralímpica, mesmo com o adiamento dos Jogos de Tóquio. A pasta também renovou automaticamente a Bolsa Pódio dos 274 que continuaram atendendo aos critérios dessa categoria.”
Fonte: Gabriel Croquer, do R7