No Rio de Janeiro dos anos 1960, cenário da 2ª temporada da série fictícia “Coisa Mais Linda”, Malu (Maria Casadevall), Adélia (Pathy Dejesus) e Thereza (Mel Lisboa) precisam lidar com uma tragédia que desestabiliza o grupo de amigas: Lígia (Fernanda Vasconcellos), que recebe um tiro do marido Augusto (Gustavo Vaz ) no fim da 1ª temporada da série, não resiste e morre, aparecendo nos novos episódios apenas por meio de flashbacks e delírios de Malu.
A continuação da obra, que fez sucesso quando lançada pela Netflix em março do ano passado, estreia nesta sexta-feira (19), e se relaciona com a realidade em que o Brasil e o mundo estão inseridos atualmente ao trazer novos personagens negros ao seu elenco. O destaque é a atriz Larissa Nunes, que integra a produção como Ivone, a irmã de Adélia, uma jovem segura de si e com talento excepcional para a música -mas que também enfrenta questões de raça e gênero na trama.
“Acredito que a Ivone reverbera muito do que aquelas mulheres -a Adélia, Thereza, Malu, e até mesmo a Lígia- traziam na primeira temporada. Essa autonomia e esses desejos”, conta a nova protagonista, em conversa via videoconferência. “O olhar dessa segunda temporada é exatamente para esse desabrochar de Ivone. Esse momento da juventude, que tem seus anseios e não sabe muito como reagir às coisas.”
“Traz ainda um conceito de sororidade, colocando mulheres juntas, mas podendo se divertir umas das outras; discordar umas das outras; ter diferenças sociais e contextos totalmente divergentes”, acrescenta a atriz, que diz se enxergar em sua personagem, tanto pelas situações de racismo sofridas, quanto por causa da música -na trama, Ivone é uma aspirante a cantora, profissão também seguida por Nunes.
A parceira de cena e também protagonista Maria Casadevall afirma que a entrada da personagem amplia a discussão sobre o racismo, que já existia na série, incorporando perspectivas diferentes e provocando novas reflexões e discussões.
“Muito se foi falado, na primeira temporada, da mulher negra forte”, diz Pathy Dejesus, ao acrescentar que sua personagem, Adélia, finalmente ganhará protagonismo em sua própria história, endossado não só pela inserção de Ivone, mas também de seu pai, Duque (Val Perré).
“Existe um lugar maravilhoso nesta segunda temporada: pela primeira vez, a Adélia tem escolha. Diferentemente das outras personagens, a Adélia nunca teve escolha. É sempre a mulher preterida, que é a história da mulher negra na nossa sociedade”, diz a atriz, responsável pela maior parte das cenas dolorosas dos novos episódios. “Vai ser sofrência total”, garante.
História de amor
Se na primeira temporada Malu forma o casal principal da trama com Chico (Leandro Lima), nesta, com o músico morando em outro continente, a protagonista engata um romance com o produtor musical Roberto. Gustavo Machado, intérprete do novo affair, diz que grande parte de sua função nesta temporada é estremecer o “casal dos sonhos” formado nos episódios anteriores.
Ele reconhece que seu personagem pode ganhar um componente de vilania ao assumir esse papel, mas que já encontrou quem torcesse pelo novo casal. “Estou torcendo para que ‘comprem'”, diz ele, garantindo que a protagonista não será apenas “uma nova namoradinha” do produtor. “É uma relação muito rica para os dois, profissionalmente. Os dois crescem um com o outro.”
Maria Casadevall acrescenta: “Ela [Malu] se permitiu encerrar uma história com Pedro. Ela se permitiu viver a história com Chico, e está se permitindo agora viver essa história com Roberto. Isso diz mais sobre essas histórias do que os respectivos parceiros.”
Outro casal que tem desdobramentos na trama é Adélia e Capitão (Ícaro Silva), que se casam e precisam enfrentar dificuldades juntos. Ícaro diz acreditar que o “papel do homem” na continuação é justamente o de dar suporte às histórias das protagonistas. “Eles continuam um pouco nas funções deles”, diz o ator. “O núcleo das quatro amigas se dissolve um pouco, e elas vão, cada uma, para os seus parceiros. A Adélia, se casando com o Capitão, aposta em uma vida nova para ela.”
Já Thereza (Mel Lisboa) tem as relações profissional e amorosa caminhando de forma proporcionalmente inversa: à medida que ela consegue um novo emprego, e se destaca cada vez mais nele, sua relação com Nelson (Alexandre Cioletti) parece definhar. “É importante para não cairmos em estereótipos; criar essa coisa de que quem está na frente na luta não é possível de sentir e ficar frágil e vulnerável”, diz a atriz.