Uma semana depois do desabamento do teto de uma creche em Agudos (SP), as crianças que estavam no local ainda sentem os efeitos do incidente que feriu 20 pessoas. Muitas delas, assustadas, ainda resistem em voltar às aulas. Dos 20 feridos, 16 eram alunos da Escola Municipal Diomira Napoleone Paschoal, que atende bebês e crianças de seis meses a 3 anos.
Atendendo um pedido das mães que não queriam separar as crianças, a prefeitura da cidade alugou uma casa que vai ser transformada em escola para os alunos da creche atingida. No entanto, o local passa por reformas e deve ficar pronto em 30 dias. Enquanto isso, outras quatro unidades da cidade recebem as crianças.
A creche Neusa Milaré é a unidade que recebeu o maior numero de alunos. No entanto, das 52 crianças esperadas, apenas 11 apareceram no primeiro dia de retorno às atividades, na terça-feira (24).
“Está muito difícil para minha filha [voltar às aulas], ela fica chorando o tempo todo, ainda não dorme a noite toda e não quer ir pra nova escola”, explica a fonoaudióloga Valdirene da Silva, mãe de uma menina que estava na creche no dia do acidente.
Outra criança que não está frequentando as aulas é o William, de 1 ano e 3 meses. Ele foi atingido pelos escombros do desabamento e quebrou o braço. Segundo os pais do menino, ele se recupera bem, mas não está indo na escola por conta do gesso.
“Enquanto se recupera, ele está ficando com a avó. Depois disso, vamos fazer o possível para que ele volte a ir na escolinha”, diz o pai, o comerciante William Canaa.
Segundo o secretário de Educação de Agudos, Rafael Lima, apenas 35% dos alunos estão frequentando os novos locais definidos pela prefeitura.
“Agora é um momento de muita preocupação com aspecto emocional, além do físico, pois muitos pais ainda estão receosos em enviar seus filhos para a escola”, admite Lima.
Para minimizar a situação, funcionários que estavam na escola no dia do desabamento, as crianças e também os pais recebem apoio psicológico oferecido por 11 profissionais do município, que promovem encontros em grupo e individuais.
De acordo com a prefeitura, parte dos funcionários, especialmente o que ficaram feridos no acidente, recebeu licença remunerada de 15 dias. Carolina Valadão é uma delas. A auxiliar da creche quebrou duas vértebras e colocou pinos nas costas.
Ela e outra professora foram levadas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e transferidas ao hospital de Bauru logo após o desabamento. A auxiliar da creche teve alta no sábado (21) e se recupera em casa.
Carolina, que ficou presa sob os escombros, relembra um barulho semelhante à queda de “dominós” antes do desabamento do telhado. Ela afirma que proteger os bebês era prioridade no meio de um cenário de caos.
“As crianças faziam o lanche no refeitório quando ouvimos um estalo muito alto, parecia um barulho de dominó caindo, um seguido do outro. Alguém disse que era o telhado e a minha primeira reação foi ir em direção aos alunos e gritar: ‘peguem os bebês!’. Logo em seguida, tudo caiu “, relata a funcionária.
Investigações
Os vereadores de Agudos aprovaram por 8 votos a 5, durante uma votação realizada na segunda-feira (23), a abertura de uma Comissão Processante (CP) contra o prefeito para investigar as responsabilidades pelo desabamento.
O pedido para a abertura de uma CP veio das mães dos alunos, que estavam presentes durante a votação, que foi acompanhada por funcionários da creche e pelo prefeito Altair Francisco Silva (PRB) acompanhado de alguns apoiadores.
Além disso, a Polícia Civil abriu um inquérito de lesão corporal e vai investigar o caso. Além da Polícia Científica, que realizou perícias no local após o acidente e também no dia seguinte, o Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) fez uma avaliação das condições do prédio. O prazo para o resultado desses laudos é de até 30 dias após a realização dos trabalhos.
Vistorias feitas em 2015, 2016 e no ano passado já citavam problemas na infraestrutura da creche. Um dos problemas citados no laudo em 2015 é que o forro possuía infiltrações e pontos específicos que deveriam ser lacrados, para evitar o contato com pombos.
Dois anos depois da primeira vistoria, em junho de 2017, outra vistoria feira pelo TSE apontou que, “apesar dos reparos na cobertura e a retirada significativa de material inservível” foram encontradas “paredes com infiltração e muitas penas de aves espalhadas pelo chão, indicando a presença de pombos”.
A prefeitura de Agudos informou que o local permanece interditado, assim como a rua lateral devido ao risco de novos desabamentos.Informou também que aguarda os laudos da Polícia Civil e do Instituto de Pesquisas Tecnológicas para decidir o que será feito com o imóvel.