A redução no ritmo de avanço das mortes pela infecção respiratória covid-19 nos Estados Unidos e na Europa deve dar um alívio para os investidores no mercado financeiro do mundo inteiro. No Brasil, entretanto, o tiroteio entre o presidente Jair Bolsonaro e o agora ex-ministro da Justiça Sérgio Moro devem continuar anuviando o cenário.
Em Nova York, as mortes pelo novo coronavírus somaram 367 ontem, o menor número em um mês. Na Itália, o país do velho continente mais afetado pela pandemia, 260 doentes morreram ontem, o nível mais baixo desde 14 de março. Os governos das duas localidades já falam em um plano para começar a retomar as atividades gradualmente.
Nesta segunda-feira, as bolsas fecharam em alta na Ásia — Tóquio avançou 2,7%, e Hong Kong, 1,88%. Na Europa, o índice FTSE 100 abriu com alta de 1,7% e o DAX subia 2,18% às 7h de Brasília.
A covid-19 ainda está em ascensão no Brasil, e, para piorar, a crise política em que o país mergulhou parece longe do fim – o que deve tornar a recuperação da economia muito mais lenta e custosa.
Na tarde de sexta-feira, 24, Moro anunciou sua saída do ministério, acusando Bolsonaro de ingerência política e fraude de sua assinatura no despacho que anunciou a saída de Maurício Valeixo, homem de sua confiança, da diretoria geral da Polícia Federal. A saída ajudou o Ibovespa a cair 5,45% na sexta-feira e levou o dólara novo recorde nominal de 5,66 reais.
Depois que o mercado fechou, Bolsonaro fez um pronunciamento chamando Moro de mentiroso e dizendo que o interesse do ex-ministro era ser indicado ao Supremo Tribunal Federal. Mais tarde, no Jornal Nacional, o ex-ministro mostrou uma troca de mensagens com a deputada federal paulista Carla Zambelli nas quais negava querer ir para o STF.
Existe a suspeita de que Bolsonaro tenha interesse em influir mais na PF para barrar as investigações que apontaram seu filho Carlos Bolsonaro, vereador no Rio de Janeiro, como chefe de um esquema de divulgação de fake news. Daí a expectativa de que a crise siga se arrastando.
“É game over para o Brasil. A economia vai agonizar por anos”, disse Fabricio Taschetto, diretor de investimentos da ACE Capital. “Esse ruído político deve persistir no curto prazo, então esperamos volatilidade adicional”, analisou na sexta-feira Renato Mimica, diretor da EXAME Research, o braço de análise de investimentos da EXAME.
A euforia que alimentou a alta de 31,6% da bolsa brasileira em 2019, com a expectativa de que Bolsonaro implantasse uma agenda reformista liberal, evaporou. Tomando agora uma postura cautelosa para apenas tentar proteger os recursos de perdas adicionais de valor – em 2020, o Ibovespa, principal índice acionário brasileiro, já recuou 36% –, o mercado torce para que o entorno de Bolsonaro consiga moderar as atitudes e palavras do presidente.
Fonte:Por Denyse Godoy