Nivaldo não estava no trágico voo que tirou a vida de muitos dos seus companheiros. Foi por pouco. Uma mudança de última hora excluiu o goleiro da lista de passageiros.
– Se eu fiquei, talvez seja para recomeçar – disse.
O recomeço será fora do campo. Aos 42 anos, o jogador símbolo do time decidiu parar. Não por conta do acidente, mas a perda de tantos amigos ratificou a escolha. É hora de mudar de função.
– Não tinha como não aceitar. Fui o primeiro a fazer parte da direção, vieram conversar comigo logo depois da tragédia. Estamos aí, vou tentar ajudar no que eu posso, conheço o clube há quase 11 anos, desde abril de 2006. Mudou muito, hoje te dá condições de trabalho. Não tinha praticamente nada. Agora, meu objetivo é outro, fazer com que o clube ande, mas estarei fora das quatro linhas.
O Nivaldo goleiro agora dá lugar a Nivaldo Constante, o gerente de futebol. Vai trabalhar em conjunto com João Carlos Maringá, diretor de futebol, e Rui Costa, o diretor-executivo do departamento. Entre as tarefas, mostrar para todo e qualquer jogador que chegar à Chape o que esse clube representa.
– Todo jogador que chegar vai ter uma conversa comigo. Vou explicar o que era e o que é a Chapecoense. Isso é muito importante, desde que o atleta queira escutar e se sensibilizar com isso. Acompanhei todo o crescimento, sei o que passei aqui, o trabalho, e o que estou passando hoje. Quando cheguei, era difícil. Hoje, o atleta chega aqui e vê que não é um clube pequeno. Se olhasse há três anos, não era isso tudo.
Após a remontagem do departamento de futebol, a intenção é que reforços possam ser anunciados a partir da semana que vem. Trabalho árduo. Para se ter uma ideia, o meia Martinuccio é o único dos nove jogadores que restaram que tem contrato até o fim de 2017. O vínculo dos demais termina em dezembro.
– São muitos clubes oferecendo atletas para jogar aqui, para nos ajudar. Vamos ter que fazer praticamente dois times, temos um calendário longo pela frente, serão muitos jogos, certamente teremos lesões, suspensões. Isso tudo vamos definir na próxima semana. Temos um perfil do clube, de todos que trabalham aqui, que é nunca cometer loucura. A Chapecoense nunca quis isso e nunca fez. Não vou dizer que daqui a pouco não possa chegar um nome de peso, mas não vamos mudar nada disso.
Mais do que montar um time forte, difícil mesmo para Nivaldo vai ser a saudade.
– Lembro a todo momento, parece que não é verdade que aconteceu. Mas preciso ser forte, temos que fazer as coisas acontecerem. No momento de reunir todo o plantel vamos lembrar de toda a turma. O pessoal da direção também, estava com eles todos os dias. Vai ser difícil, mas vamos superar. Não vamos esquecer deles, é algo para o resto da vida.
Nivaldo encerrou a carreira com 298 jogos pela Chapecoense. Foi por pouco que não completou os 300. Mas ele chega lá. De um jeito diferente, mas chega.
Fonte: globoesporte.globo.com