Pacientes com câncer e esclerose múltipla do Hospital Ophir Loyola, em Belém, denunciam que não estão mais recebendo os medicamentos para o tratamento. A direção do hospital informou que a demanda pelos remédios aumentos, superando a quantidade comprada em contrato. O Governo do Pará disse que abriu processo de compra emergencial dos medicamentos.
Na caixa, apenas a bula. O medicamento que dura um mês acabou na semana passada. Uma nova caixa deveria ter sido entregue no último dia 4 de dezembro. Mas, até agora não há previsão para a Frida Suzuki retome o tratamento da esclerose múltipla
“É uma angústia muito grande por saber que meus pais estão passando. É viver contra o tempo. A doença aparece quando ela quer. Eu tenho medo constante de passar mal e voltar a tomar corticoide, ser internada. E eu não quero porque eu sei que com o medicamento eu tenho mais qualidade de vida. Eu sei que é meu direito receber. Eu fico muito triste em saber que essa situação está acontecendo comigo e com outras pessoas”, desabafou Frida.
A esclerose múltipla é uma doença neurológica, crônica e autoimune que que ataca as células nervosas do paciente. Afeta principalmente o sistema nervoso central, causando problemas físicos e cognitivos, como dor, perda da visão e do equilíbrio. A doença não tem cura. O fumarato de dimetila, remédio fornecido pelo Ophir Loyola é a primeira opção para o tratamento pelo SUS.
“A medicação, se a gente pedir de São Paulo chega ele chega em quatro dias, mas custa R$ 7,2 mil, fora o frete, só para um mês. A gente fica preocupado, sem dormir, sem comer porque é a qualidade de vida dela, da minha filha, e de outros pacientes”, disse Briseide Suzuki, mãe da Frida.
Luta contra o câncer
“Não são apenas as pessoas com esclerose múltipla que foram obrigadas a suspender o tratamento por falta de medicamento. Pacientes do Hospital Oncológico Ophir Loyola que estão lutando contra o câncer também denunciam problemas no fornecimento de remédios. Mary Melo precisa fazer quimioterapia.
“Na hora deu eu fazer a quimioterapia não tinha a medicação. O câncer é uma doença muito cruel, uma doença que não espera a medicação chegar”, contou Mary.
Vânia Costa tem um câncer que ainda não foi localizado pelos médicos. Depois de iniciar a quimio, soube que precisaria fazer uma cirurgia, que não aconteceu. Um dos motivos foi a falta dos remédios, e não há prazo pra chegar.
“Mediante essa falta, essa não continuidade, tá voltando tudo o que estava sentindo no início. Uma fadiga extrema. Inchaço abdominal, vômito…” corta para: “Era 8 mil reais uma aplicação particular. Inviável totalmente. Tô sem fazer”, contou.
Para o diretor da Sociedade Brasileira de Oncologia Clinica, a demora na conclusão do tratamento contra o câncer por causa do repasse de medicamentos é prejudicial à saúde e pode ser decisiva na cura ou não do paciente.
“Quando você não faz a coisa no tempo certo, você acaba prejudicando as chances do paciente ficar curado. Atrasos de um mês podem ter uma repercussão extremamente negativa na chance de cura de um paciente com o decréscimo significativo de chance de cura. Isso é uma tragédia”, explicou Rafaeíl Kaliks.
Busca pela esperança
No caso da Frida, não há cura. Mas pode garantir mais qualidade de vida
“Eu planejo minha vida. Eu estou caminhando na faculdade e eu quero fazer muita coisa. Se a que eu vou estar com saúde. Eu sei que esses medicamentos que eu recebo do SUS eu posso ter essa qualidade de vida. Eu fico com medo de não realizar meus sonho”, disse Frida.
Notas
Em nota, o Hospital Ophir Loyola informou que aumentou o consumo do medicamento usado para quimioterapia, ultrapassando a quantidade adquirida em contrato. Para suprir a necessidade excedente, o Governo do Pará iniciou um processo de aquisição emergencial. A compra foi concluída nesta semana e a entrega está programada para a próxima terça-feira (15).
Já sobre o medicamento para esclerose, a Secretaria de Estado de Saúde Pública do Pará (Sespa) disse apenas que a aquisição é de responsabilidade do Ministério da Saúde.
A reportagem entrou em contato com o Ministério da Saúde e ainda aguardamos resposta.
Fonte: Por G1 PA — Belém