A estátua vistosa no centro da rotatória, em meio a duas grandes placas de ferro, na entrada de Itabira, indicam a força de uma grande personalidade na cidade mineira com pouco mais de 120 mil habitantes, localizada na região central do Estado, a 106 km de Belo Horizonte.
Quem se aproxima observa que uma das placas traz um poema: A Grande Ilusão do Migrante. A escultura maciça ao lado traz a figura do autor: Carlos Drummond de Andrade – o itabirano mais famoso, que deixou em sua obra sinais da saudade pela terra natal, de onde se mudou ainda na juventude.
O R7 Estúdio percorre locais de Minas Gerais que ainda guardam tesouros de um dos maiores escritores do país e que eternizam os bastidores da vida do poeta que, se estivesse vivo, teria completado 120 anos em 31 de outubro de 2022.
A estátua na chegada da Itabira não é a única homenagem a Drummond na cidade. A obra faz parte do Museu de Território Caminhos Drummondianos, um circuito com 44 placas instaladas pelo município com poemas do escritor mineiro.
A 6 quilômetros da estatueta está a Fazenda Pontal, com uma réplica do casarão da fazenda da família de Drummond, no qual ele passou boa parte da infância, principalmente férias e fins de semana. A propriedade original foi destruída em 1973 para dar espaço a uma barragem de minério. A cópia foi erguida como contrapartida para manter viva a história do poeta.
Mas Drummond não ficou muito tempo na cidade. Antes de sair da adolescência, ele já havia se mudado para a capital do estado, Belo Horizonte, onde frequentou o centenário Colégio Arnaldo, na região centro-sul da cidade. Além de ter passado uma temporada em um colégio interno de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro, de onde foi expulso por “insubordinação mental”.
O R7 visitou o Colégio Arnaldo para entender como era o aluno Carlos Drummond na escola que segue em funcionamento até hoje. A equipe também visitou o bairro onde os familiares do escritor viveram em Belo Horizonte para entender o que eles deixaram de marca na cidade. Ouça as histórias no podcast abaixo:
A timidez característica do jovem magro e franzino não impedia as críticas pontuais sobre os problemas cotidianos que ele apontava em seus textos. O traço marcante da escrita se perpetuou quando ele juntou-se a outros escritores mineiros em BH para editar A Revista, produção de estilo modernista que propagava na jovem capital mineira as tendências do movimento cultural e literário iniciado com a Semana de Arte Moderna de São Paulo, em 1922.
“O Modernismo veio trazer o cotidiano quanto aos temas, além da liberdade formal. Qualquer coisa pode ser motivo de poema. Tudo pode receber tratamento poético. Até uma pedra no meio do caminho”, explica Antônio Sérgio Bueno, professor aposentado de literatura da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) sobre as características do movimento literário.
Foi baseado nessa ruptura com os padrões estilísticos da literatura que Drummond transformou acontecimentos corriqueiros em versos, como no poema No Meio do Caminho.