O estado mais novo, localizado no coração do Brasil, abriga riquezas naturais, a maior ilha fluvial do mundo, águas esverdeadas que parecem pedras preciosas e vegetação que se funde em Cerrado e Amazônia. O Tocantins, cujo nome veio do tupi e significa Bico de Tucano, é ainda refúgio para nove povos indígenas e comunidades quilombolas.
Com uma área de mais de 277 mil quilômetros quadrados, o estado conhecido por muitas belezas, tem apenas 34 anos e foi criado através de uma emenda constitucional em 1988. Apesar de jovem, a história do estado é antiga, se mistura com a do estado de Goiás, tem episódios de esquecimento e pobreza e envolve personagens que lutaram pelo movimento separatista.
Diversas tentativas de fazer com que o então norte goiano tivesse autonomia ocorreram ao longo dos séculos. Mas somente em 1987, em meios às discussões da Assembleia Constituinte, uma emenda que tratava da criação do estado foi apresentada e aprovada. Na Constituição de 1988 consta a criação do Tocantins. No dia 5 de outubro deste ano, o mais novo estado completará 35 anos.
Mas como o Tocantins surgiu? Conheça a história nesta reportagem:
- Do ouro à pobreza
- A Comarca do Norte
- Movimentos para separação começam em 1821
- Luta atravessou séculos
- Enfim, nasce um novo estado
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/Q/J/xSx5tJSHiIcPOyUHmAaA/palmas-14.jpg)
Na pista do antigo aeroporto; carro de boi e aeronave dividem espaço — Foto: Siqueira Campos/Arquivo Pessoal
Do ouro à pobreza
O Tocantins nasceu a partir da divisão do estado de Goiás. No século XVIII, o então norte goiano chegou a ser conhecido como uma das áreas que mais produziam ouro na capitania. Muitas pessoas se deslocaram para a região do Araés, como a princípio se chamou essa parte do Brasil.
Historiadores relatam que a região foi palco primeiramente de uma fase épica vivida pelos seus exploradores. À medida que o ouro ia sendo encontrado, os novos habitantes da região montavam arraiais nas margens de rios ou riachos.
Na época, surgiram Natividade e Almas (1734), Arraias e Chapada (1736) e Pontal e Porto Real (1738). Nos anos 40, surgiram Conceição, Carmo e Taboca, e mais tarde Príncipe (1770). Alguns foram extintos, como Pontal, Taboca e Príncipe. Os outros resistiram à decadência da mineração e no século XIX se transformaram em vilas e, posteriormente, em cidades.
Na segunda década do século XIX, grande parte da população abandonou os aglomerados urbanos. Aqueles que ficaram, migraram para a zona rural e se dedicaram à criação de gado e agricultura, segundo o historiador Luis Palacin, citado no histórico divulgado pelo governo.
O desembargador Theotônio Segurado, que mais tarde se tornaria ouvidor da Comarca do Norte, em relatório de 1806, descreveu a situação precária que se encontrava a região.
A Comarca do Norte
Para facilitar a administração, incentivar o povoamento e o desenvolvimento da navegação dos rios Tocantins e Araguaia, a Capitania de Goiás foi dividida entre a Comarca do Sul e a Comarca do Norte, sendo que esta passou a ser chamada de Comarca de São João das Duas Barras.
O desembargador Joaquim Theotônio Segurado foi nomeado como ouvidor. A nova comarca compreendia os julgados de Porto Real, Natividade, Conceição, Arraias, São Félix, Cavalcante, Traíras e Flores.
Theotônio foi um grande defensor dos interesses regionais e reivindicou a autonomia político-administrativa da região. O 18 de março foi, oficialmente, considerado o Dia da Autonomia pela lei 960 de 17 de março de 1998, por ser a data da criação da Comarca do Norte, estabelecida como marco inicial da luta pela emancipação do Estado.
Movimentos para separação começam em 1821
Enquanto Portugal enfrentava uma revolução em 1820 que queria a recolonização do Brasil, por aqui a elite buscava a emancipação do país. Com ideais liberais, capitania de Goiás também seguiam com o interesse de derrubar lideranças contrárias, como o capitão-general Manoel Sampaio.
Em 1821, capitão Felipe Antônio Cardoso e o padre Luiz Bartolomeu Marques organizaram uma investida para depor o capitão-general. Mas o ato foi denunciado e os envolvidos acabaram presos, menos o padre Marques, que conseguiu fugir. Posteriormente voltou a se organizar novamente contra o general.
Um mês depois da tentativa de depor Sampaio, foi instalado o governo independencista do norte, em 14 de setembro de 1821. A capital provisória seria Cavalcante até janeiro de 1822. Logo após, o governo provisório da Comarca da Palma circulou uma proclamação se declarando separado do governo.
Um governo ‘independente’, mesmo não estando livre da Coroa Portuguesa, estava entre os planos de Theotônio Segurado. Mas a falta de uma postura independencista fez com que alguns integrantes do movimento separatista deixassem de apoiar a causa.
Em outubro de 1821 a capital passou a ser Arraias e em janeiro de 1822, Theotônio foi para Lisboa representar Goiás na Corte. Isso gerou uma crise interna. Sem uma liderança, o movimento perdeu força para interesses particulares dos representantes de arraiais.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/m/a/8TkAubSdSm8eMo7ibHgQ/to40399.jpg)
Foto hitórica da cidade de Arraias registrada no século XX — Foto: Divulgação/IBGE
Luta atravessou séculos
Confira em tópicos outras movimentações que marcaram as tentativas de separação nos séculos XIX para XX:
- Atravessando o período colonial e permanecendo na ideia ainda durante o império, mais duas tentativas de separação foram registradas. Em 1863, Visconde de Taunay enquanto deputado pela Província de Goiás propôs a separação do norte goiano e criação da Província da Boa Vista do Tocantins. Nesse contexto, a vila capital seria Boa Vista, atual município de Tocantinópolis.
- Já em 1889, um projeto de Fausto de Souza também propôs divisão, mas de 40 províncias. O Tocantins contava no projeto, compreendendo o norte goiano.
- O discurso seguiu na virada do século XIX para XX e a ideia era disseminada pela imprensa. A partir de 1930 as ideias de separação voltaram à esfera nacional.
- Na Constituição de 1937, foram criados os territórios do Amapá, Rio Branco, Guaporé (Rondônia) Itaguaçu e Ponta Porã, extintos pela Constituição de 1946. Nesse período houve a defesa para criar o território do Tocantins.
Enfim, nasce um novo estado
No ano de 1987, em meio aos acontecimentos da Assembleia Constituinte, lideranças mobilizaram a população do norte goiano com o intuito de propor a autonomia da região. O local já era batizado de Tocantins.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2023/q/8/Cs9L37RVuq7IYbsZxTjw/f-assembleia-nacional-constituinte-sessao-de-01-1-acervo-secom-to.jpg)
Siqueira Campos durante Assembleia Nacional Constituinte — Foto: Acervo/Secom Tocantins
Uma emenda popular com cerca de 80 mil assinaturas de apoio à criação do estado foi apresentada à Assembleia. Outras medidas também nasceram nessa época, como a criação de partidos e organizações que defendiam essa ideia.
Ainda em 1987, no mês de junho, o então deputado federal por Goiás Siqueira Campos – que faleceu no dia 4 de junho de 2023 -, entregou ao deputado Ulisses Guimarães, que era o presidente da Assembleia, a fusão de emendas que criavam o Estado do Tocantins. A votação e aprovação aconteceram no mesmo dia. Mas o nascimento do estado só veio com a Constituição de 1988.
/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_59edd422c0c84a879bd37670ae4f538a/internal_photos/bs/2017/h/r/JP79vlRVyFABtBJUXFpg/palmas-1.jpg)
Primeiros trabalhadores chegam para tentar a vida em Palmas e ajudar na construção da cidade — Foto: Siqueira Campos/Arquivo Pessoal
Uma das curiosidades sobre o momento de criação do estado é que, na época, todas a cidades que terminavam o nome com ‘do Norte’ passaram a ser denominadas como ‘do Tocantins’. A exemplo estão: Miracema do Tocantins, Paraíso do Tocantins e Aurora do Tocantins.
Um ano após o nascimento do Tocantins, a primeira Constituição foi promulgada, em 5 de outubro de 1989.
Uma área localizada bem ao centro do território do estado foi escolhida para ser a capital: Palmas. A cidade foi criada em 20 de maio de 1989 e a partir de 1º de janeiro de 1990 começou a ser instalada e se tornou sede do governo estadual, onde se encontra até hoje.
Fonte: G1 Tocantins